...a saudade é arumar o quarto do filho que já morreu...
Chico Buarque
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
Fernando Pessoa
Mafalda Veiga - O menino da sua mãe
Pedaço de mim - Chico Buarque
Pedaço de Mim
Composição : Chico Buarque
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
8 comentários:
Carlos,
Dói em mim a dor dessas mães, pais e crianças (as que não se foram e que nunca mais serão as mesmas).
Dói tanto... meus problemas se tornam tão pequenos, que me envergonho de certos pensamentos tristes que por vezes me pego tendo.
Luna,
Não se envergonhe, dor não se compara, cada um tem a sua e com nuances próprias.
Um beijo!
Carlos Kurare
A postagem de HOJE calou-me !!!
Lindaaaaaaaaaa..simplesmente LINDAAAAAAAAAAA..
De onde KURARE retiras esta capacidade de VER? ENSINA-ME AMIGO..Consegues postar uma FOTO à medida..Maravilhosa esta da 'bexiga azul'..De uma SUBJETIVIDADE fantástica..só para inteligências sensíveis..A bexiga..simplesmente..partindo..Como algo que se desprende de nós..que se solta..
Sabe, lembrei-me de quando criança o quanto gostava de balões de gás. Temia soltá-los de minhas diminutas mãos..temia que partissem..Mas sabia que iriam..Um dia as 'bolas de gás' se vão..se DESPRENDEM..Como é difícil desprender..
Desprender de um filho que se foi..Filhos se vão de várias formas..Às vezes, se vão cada dia um pouquinho..Pais também se vão..mães..Entretanto, há saídas...O ato de transformar-se, ser alquimista de si é uma delas, a outra..é encontrar a beleza da vida na sabedoria do 'deixar partir'..
Assim é que todos os dias nos desprendemos..não é mesmo? Do ontem..dos velhos hábitos, que se acondicionam como móveis e sucatas em nossos sótãos mentais..
COMO É DIFÍCIL DESPRENDER..mesmo quando sabemos SER NECESSÁRIO..Mas faço, querido amigo, como o Zeca Pagodinho ..muitas vezes, procuro não elucubrar muito e então..deixo a VIDA ME LEVAR..Mas não permito, JAMAIS, que a 'VIDA LEVA EU'..
Descobri que apesar das bolas que se vão...VALE A PENA LUTAR PARA SER FELIZ E SOBREPUJAR TUDO...
SER RESILIENTE..que hoje para mim..RESILIÊNCIA é SINÔNIMO DE KURARE.
Sei que me entendes.
Beijo no coração,
de tua AMIGA.
Sheyla
Sheyla,
Amiga... furtaram-me a voz aqui!
Obrigado pelo carinho.
Hoje somos poucos, mas quero crer que amanhã... seremos muitos!
Um afetuoso beijo!
Carlos Kurare
Saudades daquele que não pude ter nos braços...
Estou emocionada e sensibilizada aqui com os comentários das meninas visitantes como eu desse maravilhoso Blog. Acho que morreria junto se um dia ceifassem a vida de meu único filho!!! Sou fraca para suportar o sofrimento...
Karina,
Não sei o que dizer...
Um abraço carinhoso... dorme bem hoje!
Carlos Kurare
Silvana,
Todos somos fracos para esse sofrimento!
Um beijo!
Carlos Kurare
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