quinta-feira, 12 de abril de 2012

Rir é o melhor remédio!

Já fiz crianças e adultos sorrirem. 
A diferença é que o sorriso infantil é mais claro!

Carlos Kurare


Hospitalhaços


"Nosso trabalho é uma brincadeira muito séria."


"O faz de conta e a criança hospitalizada"


"Todos sabemos o quanto é sofrido para a criança ter que pemanecer em um hospital.

Longe de casa, longe da escola, dos amigos, longe de sua rotina, longe de tudo aquilo que mais gosta, a criança passa a enfrentar uma realidade muito distante daquela que deveria fazer parte do seu crescimento.Tendo que se adaptar, forçosamente, à novas condições, fica a criança privada - pelo menos durante seu tempo de internação - de exercitar o Faz de Conta livremente e, com isso, crescer de maneira emocionalmente saudável.

Infelizmente não são todos os hospitais que oferecem brinquedoteca ou mesmo bibliotecas destinadas ao público infantil. Isso acaba por prejudicar o desenvolvimento dessa criança porque o lúdico tem papel de suma importância, tanto no campo da maturação cognitiva quanto no da maturação emocional.



Ao longo dos anos, psicanalistas, psicólogos, psicopedagogos apontam para a primordial função que o brincar e o faz de conta, tem na vida de uma criança. Esse brincar não se resume apenas no brinquedo em si mas, sim, em todo significado subjetivo que a ação em si carrega.

Uma criança quando impedida da brincadeira, do exercer o faz de conta, do praticar o imaginário, certamente, poderá apresentar distúrbios psicomotores, de aprendizagem, poderá ainda apresentar dificuldades em suas relações sócio-afetivas, manifestar agressividade e irritabilidade, e, até mesmo, padecer de episódios de insônia. O brincar, para a criança, não é só um momento de puro prazer como imaginam muitos adultos:

“Conquanto seja fácil perceber que as crianças brincam por prazer, é muito mais difícil para as pessoas verem que as crianças brincam para dominar angústias, controlar ideias e impulsos que conduzem à angústia se não forem dominados” (WINNICOTT, 1965, p. 162).

É no Faz de Conta que a criança elabora muitos conflitos. Nesse faz de conta, a criança vivencia seus medos, suas angústias, faz descobertas e experimenta novas situações. É no Faz de Conta que a criança ressignifica seus próprios significados. Bettlelheim (2003) diz que a nossa maior e mais difícil realização é o de encontrar um significado em nossas vidas, por isso ajudar a criança a encontrar essa significação é uma difícil tarefa que tem, como grande aliado, os Contos de Fadas.

Qual adulto não se lembra das peripécias dos Três Porquinhos? Quem não vivenciou o medo do Lobo Mau na investidas contra Chapeuzinho Vermelho? Quem não se lembra que aprendeu que o mentiroso só de dá mal, depois de ouvir as repetidas lorotas em Pedro e o Lobo? Quem nunca desejou encontrar uma Galinha dos Ovos de Ouro, igualzinha a da narrativa de João e o Pé de Feijão? Quem nunca se fez passar por príncipe, princesa ou mesmo um guerreiro valente ou donzela apaixonada? Estórias que marcaram para sempre nossas histórias. Tão importante elas são que lendo esse parágrafo, automaticamente nos remetemos à nossa infância e, foi nela que através desses contos tão enriquecedores, recebemos ferramentas para que pudéssemos reorganizar nossos significados.

... “a criança deve receber ajuda para que possa dar algum sentido coerente seu turbilhão de sentimentos. Necessita de idéias sobre a forma de colocar ordem na sua casa interior, e com base nisso ser capaz de criar ordem na sua vida.

...Necessita de uma educação moral que de modo sutil e implícito conduza-a às vantagens do comportamento moral, não através de conceitos éticos abstratos, mas daquilo que lhe parece tangivelmente correto, e portanto significativo. A criança encontra esse tipo de significado nos contos de fadas”. (Bettleheim, 2003, pg 13)

Os Contos de Fada, quase que em sua totalidade, tratam de várias situações problemáticas muito comuns aos seres humanos, especialmente situações que fazem parte do “universo de preocupações da criança”. Os exemplo oferecidos em suas narrativas tratam de lutas contra o bem e o mal, do bonito e do feio, da vida e da morte, da riqueza e da pobreza, do crescer e envelhecer, sobre a dor e a sáude, sobre justiça e injustiça, sobre alegria e tristeza. É justamente por esse motivo que através deles é que a criança vai perceber e aprender que as lutas nos são comuns sim, mas para elas, existem soluções.

Nossa intenção, com este artigo, é conscientizar médicos, enfermeiras, pais, familiares e cuidadores de crianças hospitalizadas que ler os Contos de Fadas é, antes de tudo, um ato de amor, porque, uma vez que o espaço hospitalar não é perfeitamente adequado as necessidades lúdicas da criança, pelo menos ao ler estórias, estaremos abrindo possibilidades para que a criança elabore seus conflitos de maneira mais saudável. Esse deve ser um exercício diário."'

"Referências Bibliográficas:

BETHELEHEIM, Bruno: A Psicanálise dos Contos de Fadas, 17ªEd., Paz e Terra, 2003

WINNICOTT, D.: A Criança e o seu Mundo, Imago,Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1982.

"A autora:

Marisa Belmudes Martinez é Arteeducadora, Psicopedagoga e Psicomotricista. Especialista em Jogos na Prática Psicopedagógica, em Diagnóstico e Intervenção das Dificuldades de Aprendizagem. Também faz parte do corpo de tutores da Fundação Aprender em Minas Gerais. Mediadora do PEI - Programa de Enriquecimento Instrumental, dá palestras, supervisão de casos e acessoria profissionais e escolas além de ministrar vários cursos."

Simpatizante da ONG Hospitalhaços, a autora estará colaborando com alguns artigos durante o ano de 2012 - contato: marisabmartinez@uol.com.br"

Fonte: copiei daqui: http://hospitalhacos.blogspot.com.br/2012/04/o-faz-de-conta-e-crianca-hospitalizada.html

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