Hoje recebi esta piada por e-mail. Ela me foi impactante! Ao lê-la escrevi o texto abaixo, sem muito esmero, me perdoe, afinal não escrevo há 33 anos. Só agora voltei a fazê-lo, fiquei trinta e três anos no Limbo! Luto para sair dele, como um náufrago luta em meio a tempestade para afastar-se do navio que vai a pique.
Sei por experiência e por “antice” (o verbo antar, conjuga-se só na primeira pessoa) própria, que muitas vezes cometemos erros aos fazermos leituras erradas sobre determinada realidade.
Lembro-me agora de uma frase do Levis Straus, não...não é o criador da calça “azul e desbotada”, tão pouco o cara chegado numa valsa. Falo do antropólogo, que deu aula na USP. A frase é mais ou menos assim : “devemos estudar o ser em relação a ele mesmo e não em relação a nós “, acho que quer dizer que devemos nos despir de nossa cultura para entender culturas diferentes.
Não, não estudei na USP, nos dois vestibulares que lá prestei, fui para a segunda fase, mas não ‘prestei’! Levei pau em exatas, sim zerei na prova de física, e química... e daí? Vai encarar? Marquei tua cara! VIU!!!
Eu costumo dar o seguinte exemplo baseado na minha própria experiência de estudante de cursos noturnos desde os quatorze anos... Bem aqui surgiu a idéia do texto abaixo:
Conversa entre vizinhas
-Maria você sabe a sandrinha?
- A que mora no fim da rua? Na casa amarela, caindo aos pedaços? Que a mãe é metida e nunca sai para falar com a gente?
- Sim essa mesma! Que o pai vive o dia todo sentado na cadeira olhando pro nada, e nunca olha pra gente quando o cumprimentamos, e se não cumprimentamos ele nem bom dia ou boa tarde dá. Tá desempregado e não procura emprego o vagabundo.
- Pois é mulher! Essa gente é muito estranha! Mas...Me conta da sandrinha.
- Sabe...Nestas noites quentes, eu me levanto, vou pra janela e fico tentando pegar um pouco de brisa e sereno, para ver se consigo dormir.
- Sei mulher! Eu vou pro quintal junto com o Genival e ficamos sentados no banco de madeira, que balança mais que o nosso casamento! O banco tá caindo aos pedaços e aquele homem não conserta nunca. Acredita?
- Sei como é vizinha, sei como é! Meu marido o Alceneu, é a mesma porcaria! Veja a quanto tempo que peço para ele tirar as tralhas do quintal e ele nada!
- Homem é, um bicho muito preguiçoso, mulher!
- É a mais pura verdade!
- E na cama então mulher? É tudo rapidinho, não tem essas tais “pré-liminares” não...
- Ah! Sei como é! Homem é tudo igual!
- Mas mulher me conta da sandrinha!
- Então menina, não sabe não... Eu acho que ela é mulher da vida!
- Não?!
- É sério?
- Como você ficou sabendo?
- Então... Todas essas noites de verão, eu vejo ela, chegando toda noite pra lá da meia-noite. Toda maquiada e com saia justa, muito justa mesmo.
- Ahhh mulher! Essa com cara de santinha, nunca me enganou! Aliás a família toda é problema! Veja o irmão dela tá sumido há mais de um ano.
- É verdade... O que será que aconteceu com ele?
- Você não sabe?
- Não! Conta!!!
- Pra mim ele tá é preso!
- É possível, não duvido nada não, afinal essa gente é bem estranha. São assim desde que mudaram pro bairro. Nunca se misturaram.
É verdade! Gente estranha!
-Muito estranha!!!
...
- Sandrinha! Filha!!! Que bom que você chegou meu amor! Eu me urinei faz horas, me ajuda a me limpar? Seu pai foi dormir e eu não quis acordá-lo, sabe como é difícil par ele dormir, os olhos lhe doem tanto desde que cegou, e ele só pensa nas nossas dificuldades e sente-se um inútil ao não poder nos ajudar? Tadinho... tá tão deprimidinho.
-Claro, mãezinha, agora mesmo! Deixe-me só tirar essa saia, eu não agüento ficar com ela, tá muito justa mãezinha, eu cresci! Rs.
-Filha compra roupas novas, suas roupas tão muito justas, já lhe falei tantas vezes.
-Mãe eu faço isso! Eu prometo, assim que o Gabriel sair do hospital! O dinheiro tá curtinho mamãe.
- Ah! Filha, como Você é boa menina, desde que seu irmão sofreu o acidente, e não pode mais sustentar a gente. Você é nosso esteio. Não sei o que seria de nós, seu pai cego, eu paralítica. Não sei como você agüenta menina, trabalha o dia inteiro estuda à noite, e ainda chega e tem que cuidar de mim.
-Mãe é tudo temporário, o ano que vem eu me formo, as coisas vão melhorar, eu vou poder contratar alguém pra cuidar de vocês, vocês não vão ter que comer mais, comida fria. O Gabriel vai ter alta.
A vida vai melhorar...
-É verdade! E assim que pudermos, filha, vamos fazer uma festa e convidaremos os vizinhos! Eu me sinto tão solitária... Adoraria conhecer a vizinhança!. Afinal, mudamos para este bairro, e devido as nossas dificuldades, ainda não conhecemos ninguém.
-Vamos sim mamãe! Faremos muitos amigos! O ano que vem...
-Você promete filha!
- Eu lhe prometo mamãezinha...eu lhe prometo...
Leitura
Um dia vi um gavião devorando um pintinho amarelinho. Eu era criança e atirei uma pedra no perverso Gavião e o matei. Senti-me orgulhoso, eu era o Batman nesse momento, lutava contra as injustiças do mundo. Aquele maligno pássaro não mais tiraria a vida de outro pintinho. Naquela noite dormi com o coração quente...feliz! Eu fizera a coisa certa! Extirpara o mau e o mal da face da terra!
Releitura
À noite filhotes de gavião dormiram com fome, frio, e tristinhos,
Faltou lhes o calor quente da mãe, a aquecer seus frágeis corpinhos.
Enquanto que, numa cama quentinha, um menino tranquilamente dormia.
Uma mãe valorosa, em algum canto ermo de um matagal, fenecia.
Releitura da releitura
O menino mau crescerá e um dia entenderá que, mal e bem e bom e mau, às vezes, depende da doçura do olhar de quem vê, muito mais do que o olhar de quem olha.
Olhar não é ver!
Carlos Kurare
Texto feito e postado! Aceito correções se eu for fazê-las vai pra gaveta como os outros. Fica no limbo. Como os do Kafka. Ajude-me a matar baratas! Sugestões e críticas, acredite-me, são bem vindas! Sheyla obrigado pelo incentivo e Sheyla ... minha amiga... muito obrigado pelas palavras de estímulo! E por ser a grande incentivadora deste blog!
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